Tudo parece programado de antemão
e lentamente perdemos a capacidade
de nos deixarmos surpreender, de aceitar que o insólito é possível.

Luís Sepúlveda, Encontro de Amor Num País Em Guerra

terça-feira, 31 de julho de 2007

Momento

Chegado o momento
em que tudo é tudo
dos teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a lua
Entre línguas e dentes
este sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Cadente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que te reduzes
Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música

David Mourão Ferreira


Este post não contará com a companhia de uma imagem... a imagem será recriada pela imaginação do leitor. Fecha os olhos... e recria... relembra... recorda...
Oiço a minha música, as minhas árias... desdobro-me no meu verdadeiro eu e sinto...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Caminho dos Meus Sonhos




...A perder de vista toda a minha realidade escondida, que agora transborda de felicidade. Sede de afagar as lágrimas derramadas por quem nunca as mereceu, lamber as feridas que ainda são... Hoje sou feito de mel, que espera pacientemente esses teus lábios ternos e sedentos de mim... Um dia serei por momentos só teu, e subirei onde já ha muito não ia, às estrelas e lá te encontrarei, onde permanecerás, bem junto de mim.

domingo, 29 de julho de 2007

Intenso

Como uma flor que brota em todo o seu esplendor
na primavera, sedenta de sol e de espalhar seus pequenos
grãos de pólen, sua beleza, seu odor, e a renovação
de mais um ciclo de vida.
Como a andorinha que anuncia a sua chegada
com um chilrear intenso e seus voos rasantes.
Como a lua cheia que anuncia um novo ciclo de marés.
Como o nascimento de uma criança, com a mudança
brutal do seu meio, do seu conforto no seio
de sua mãe.
Assim é intensa a paixão.
Paixão desmedida,
Sofrida, mas tão bela, tão extasiante que faz mudar
cada segundo das nossas vidas,
nos faz sentir renascidos, belos, desejados até ao
mais ínfimo pormenor.
Partilhar tudo que nos rodeia e sentir que o outro também partilha
do mais pequeno pormenor, o mais pequeno
gesto, olhar, suspiro...
Assim vão as nossas almas, perdidas
num infinito de emoções...
Adoro tudo o que é teu.
Sou o ser renascido apenas para ti...

O Insecto

(Foto de Alin Ciortea)

Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.

Sou mais pequeno que um insecto.

Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centímetros queimados,
pálidas perspectivas.

Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!

Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.

Para teus pés resvalo
para as oito aberturas
dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto teu contorno
de vaso escaldante!

Pablo Neruda
Happy are those who have dreams
And are ready to pay the price
To make them come true.

sábado, 28 de julho de 2007


Com dedos entrelaçados, sentindo cada centímetro da tua pele, deitados na duna onde um beijo é pouco... Ouvimos o som das ondas beijando a areia, num murmúrio simples mas tão elaborado, parece um dialogo com segredos... fecho os olhos e sinto o teu respirar...

...é tão bom ter-te aqui.

Horas Rubras


Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas…

Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve branca misteriosa…
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

Florbela Espanca

quarta-feira, 25 de julho de 2007


Beijo ardente, corpo quente, dormente
Beijo que se sente, sem que tente...
Beijo que te dou e me arde a mente...
Beijo-te porque te quero.

So close


Something tells me that you are so close
and yet so far...
you told me that you had shed some tears for me
all I wanted was to be able to share them
as I also have them deep inside of me
I long for you,
I can see you inside of me...

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Aria III




Sogno
Folle amore!
Folle ebbrezza!
Chi la sottil carezza
D'un bacio cosi aredente
Mai ridir potrà?

Ah! mio sogno!
Ah! mia vita!

Che importa la ricchezza
Se alfine è rifiorita
La felicità!
O sogno d'or
Poter amar così!

(Imagem www.sydneysymphony.com)


Mad love!
Mad happiness!
Who will ever be able again
To describe the light caress
Of a kiss so burning!

Oh! My dream!
Oh! My life!

Who cares for wealth
If at last happiness flourishes!
Oh golden dream
To be able to love you this way!

(Puccini, La Rondine)

Aria II




Farewell

O a me, sceso dal trono
dell'alto Paradiso,
guarda ben fiso, fiso di tua madre la faccia!
che ten resti una traccia, guarda ben!
Amore, addio! addio! piccolo amor

Oh, you who came down to me from
Heaven's highest throne,
look for the last time upon your Mother's face,
look closely at her face, closely,
so that some trace will remain, look carefully!
Farewell my beloved! goodbye, little love!


(Based on an aria from Puccini's Madame Butterfly)

domingo, 22 de julho de 2007

(Foto de Alex Krivtsov)


A vida só faz sentido

quando envolvida

na vida

de alguém...

terça-feira, 17 de julho de 2007

"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo;
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com
Meu sonho..."
Pablo Neruda

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Hands

Vi mãos que se perdem
brancas e abertas
presentes e escondidas
mãoes que recebem
nossas mãos amigas.
São mãos quentes e frias
do passado e do presente
e na simplicidade de um toque,
vi mãos que se beijam desesperadamente.


(Foto de Pierre de Lune)

Tua voz tem o gosto do teu beijo,
Teu beijo é macio como tua pele,
Tua pele tem a luz dos teus olhos,
Teus olhos tem o cheiro do teu corpo,
Teu corpo tem o som da tua voz,
Pensar em ti não tem sentido.
André Silveira

Vem.
Vem comigo
cansados de amor
mergulhemos juntos na noite
no silêncio dos amantes

amor amor amor
repete comigo
as palavras que nos dão paz.
www.astormentas.com

Fragmentos


"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."

"E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou."

"Não há sossego - e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter."

"São as pessoas que habitualmente me cercam, são as almas que, desconhecendo-me, todos os dias me conhecem com o convívio e a fala, que me põem na garganta do espírito o nó salivar do desgosto físico. É a sordidez monótona da sua vida, paralela à exterioridade da minha, é a sua consciência íntima de serem meus semelhantes, que me veste o traje de forçado, me dá a cela de penitenciário, me faz apócrifo e mendigo."


Bernardo Soares, O Livro do Desassossego

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Chasing cars...


We'll do it all
Everything
On our own
We don't need
Anything
Or anyone
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
I don't quite know
How to say
How I feel
Those three words
Are said too much
They're not enough
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life
Let's waste time
Chasing cars
Around our heads
I need your grace
To remind me
To find my own
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life
All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see
I don't know where
Confused about how as well
Just know that these things will never change for us at all
If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
(Snow Patrol)

Let's forget the world...

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Cheiro

Sinto teu cheiro, assim como tu conheces o meu,
somos um no outro, nesta ausência temporal.
Consigo sentir-te em mim
cada vez que te cheiro...
Neste pensamento que me assalta,
fecho os olhos e consigo ver-te, sentir-te, tocar,
inspirar-te...
Agarro-te vezes sem fim,
a mão na areia,
como se o cenário fosse nosso, e só nosso...
Olho no espelho e tento agarrar-te
do outro lado, querendo encurtar a distância...

Hoje vou dormir contigo, hoje conheço o teu aroma...

O valor das coisas não está no
tempo que elas duram, mas na
intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis
e pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa



Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos .

Oscar Wilde

Quem sabe um dia...

...Estarás tão perto de mim,
tão perto da minha alma
que te sinto sem te sentir
...quem sabe um dia,
te possa segredar no ouvido,
palavras que já conheces,
mas nunca ousaste ouvir...
Não te consigo evitar,
deixar de te querer para mim,
nem que seja por um momento
como se o mundo fosse acabar...
És o meu vício, a minha ânsia,
a minha doce poesia,
my sweet POETRY,
...quem sabe um dia...
You will be mine...

Olhar


Perdido no teu olhar

Lindo, belo, olhar perdido
olhar carinhoso, sombrio,
deslumbrado, claro, puro,
misterioso, tudo o que sempre
quis ver, num olhar, ter esses
olhos tão cheios de vida
misturando-se nos meus
como quem procura a essência
da vida, a eterna procura,
a eterna fonte da juventude
nunca encontrada...
Mas a verdade está sempre
nos olhos, procuras, e vês,
porque a pureza não se esconde
nunca se esconde...
Livro aberto, partilha de almas
perdidas, nunca encontradas
verdadeiramente porque nunca somos
nós mesmos, apenas um...
São precisos quatro olhos para se ver a alma...
Quero ver a tua...
I'm lost in your eyes!

Chuva

Naquela noite ligeiramente fria,
em que olhava o céu buscando incessantemente a lua pálida
sentia a pele humida pelas pequenas gotículas
que me escorriam face a baixo
e acabavam por tocar meus lábios,
sedentos de algo tão frágil e ao mesmo
tempo tão poderoso, tão divinal.
Dou comigo de olhos fechados pensando em ti,
e por momentos os meus pensamentos fervilham,
e chego à derradeira conclusão...
Estas gotas, são não mais que beijos
teus que procuram meus lábios...

"Amour" et "Sensuel"




Solto Meu Corpo

Sei que no meu intímo és minha
nem que seja por palavras,
mas és minha...
Tenho-te na memória,
consigo cheirar-te finalmente,
nem que seja à distância,
mas consigo.
Por momentos, fecho os olhos
e inspiro o teu cheiro,
e estás presente,
mesmo que seja numa memória tão minha,
mas sim... estás aqui...
consigo sentir
o teu respirar,
o teu calor,
sorrindo para mim, para ti...
Sim! porque agora já te consigo ter,
nem que seja por mais um bocadinho
que sei que é teu, mas tão meu...
Solto meu corpo à memória recente,
viva e espartana,
como se fosse um animal, que consegue identificar
o mais ínfimo odor, e este ja é tão meu...
Solto o meu corpo, a minha alma
à tua pessoa, entrego-me toda a ti...
Sou todo teu...

Sugestão: www.kenzo.com

domingo, 8 de julho de 2007

Kiss

Jim Lasher, Kiss

"Suspiro por momentos que nao tive,
e que quero ter,
sinto-te perto dos meus lábios,
o calor do beijo que se aproxima
e que sinto mesmo de olhos fechados,
estamos de baixo de uma árvore
onde partilhamos poesia,
fruta dada na boca
e fazemos amor..."
Mermaid Art by Ian Sanderson

A lover knows only humility, he has no choice.
He steals into your alley at night, he has no choice.
He longs to kiss every lock of your hair, don't fret, he has no choice.
In his frenzied love for you, he longs to break the chains of his imprisonment, he has no choice.

A lover asked his beloved, Do you love yourself more than you love me?
Beloved replied, I have died to myself and I live for you.
I've disappeared from myself and my attributes,
I am present only for you
I've forgotten all my learnings,
but from knowing you I've become a scholar.
I've lost all my strength, but from your power I am able.
I love myself...I love you.
I love you...I love myself.

I am your lover, come to my side, I will open the gate to your love.
Come settle with me, let us be neighbors to the stars.
You have been hiding so long, endlessly drifting in the sea of my love.
Even so, you have always been connected to me.
Concealed, revealed, in the unknown, in the un-manifest.
I am life itself.

You have been a prisoner of a little pond, I am the ocean and its turbulent flood.
Come merge with me, leave this world of ignorance.
Be with me, I will open the gate to your love.
I desire you more than food or drink
My body, my senses, my mind, hunger for your taste
I can sense your presence in my heart
although you belong to all the world
I wait with silent passion for one gesture, one glance from you "

Deepak Chopra Lyrics of Desire w/ Demi Moore

sábado, 7 de julho de 2007

Gustav Klimt, O Beijo

Nunca mais esqueço teu rosto...
fito-me nele tantas vezes repetidas
recordo-te de olhos fechados
com tanta facilidade que pareces
estar aqui a minha frente...
Lindos esses labios,
que um dia sei que por momentos
serão so meus, perdidos
na nossa luxúria, onde trocamos
sentimentos fortes que só nós dois
entendemos...

Horizonte

Solto um suspiro para o mar, lembrando o sonho de outrora
Sinto-te cravada na memória, sem que para isso me dê
Plenamente sou por momentos teu
Tenho a tua atenção.
Fecho lentamente os olhos fitando o horizonte e
vislumbrando este pôr do sol único...
A gaivota plana no ar serena e bela,
como se o amanhã não importasse.
Murmurios de palavras que o mar solta
ao bater na areia vezes sem conta.
Palavras tuas no meu ouvido, parecendo uma canção
que em tempos ouvia, e que pensei ser minha...
volto para trás e encontro teus lábios,
e como se não houvesse amanhã...
Amei-te...

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte.
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

(ou talvez sim...)
Até agora eu não me conhecia.
Julgave que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, não o dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca! -
E achei o meu olhar no teu olhar
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a minha chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca
(Eu - Livro de Mágoas
Eu - Charneca em Flor)

Secretamente

Passo por ti
Tu nem me ves
Só mais um dia.. amanhã talvez

E fico à espera
De ver em ti
O sentimento... que trago dentro de mim

Mas eu só posso imaginar
O que podia ser
Se eu te pudesse abraçar
Se eu te pudesse ter

Secretamente à espera de um gesto, de um sinal
Secretamente tentando saber se dás por mim, afinal
Secretamente à procura de um toque, de um olhar
Secretamente tentando saber..
Se algum dia os nossos mundos se irão cruzar

Qual o caminho
Que irá dar, a esse teu mundo
Onde eu queria entrar.
E tantas vezes, eu já sorri
Só por lembrar-me
Só por pensar em ti

E eu só posso imaginar
O que podia ser
Se eu te pudesse abraçar
Se eu te pudesse ter...

Secretamente à espera de um gesto, de um sinal
Secretamente tentando saber se dás por mim afinal
Secretamente à procura de um toque, de um olhar
Secretamente tentando saber
Se algum dia os nossos mundos se irão cruzar...!
(Rita Guerra)

Magritte

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Laura Brown está a tentar perder-se. Não, não é exactamente isso: está a tentar continuar ela própria conseguindo entrar num mundo paralelo. (...) Não devia permitir-se o luxo de ler, sobretudo nesta manhã, sobretudo no dia de anos de Dan. Já devia estar levantada, com o duche tomado e vestida, a preparar o pequeno almoço para Dan e Richie. (...) Devia estar ao fogão, com o seu roupão novo, pródiga de conversa simples e encorajadora.
Michael Cunningham, As Horas

Segurança?

Elevador do Lavra

Lavra a terra oblíqua
íngreme iníqua
com pedregulhos quadrados
lomba dos sete costados.

Faculdades, necrotérios
exactamente ao contrário
das flores do cemitério.

No alto do grande esforço
dos guinchos e cabrestantes
só faltam saltos de corço.

Torel, Touril, touros mansos
a bramir na vâ colina.

Mártires da Pátria, gansos
grasnam a dor matutina.

José Carlos González



~~~


Porto Sentido

Quem vem e atravessa o rio,
Junto à Serra do Pilar,
Vê um velho casario
Que se entende até ao mar.


Quem te vê ao vir da ponte
És cascata sanjoanina
Erigida sobre um monte,
No meio da neblina,
Por ruelas e calçadas,
Da Ribeira até à Foz,
Por pedras sujas e gastas
E lampeões tristes e sós.


Esse teu ar grave e sério
Num rosto de cantaria
Que nos oculta o mistério
Dessa luz bela e sombria.


Ver-te assim abandonado
Nesse timbre pardacento,
Nesse teu jeito fechado
De quem moi um sentimento...
E é sempre a primeira vez,
Em cada regresso a casa,
Rever-te nessa altivez
De milhafre ferido na asa.

Carlos Tê









Kiss the Rain



Hello...Can you hear me
Am I getting through to you
Hello...Is it late there
Is there laughter on the line
Are you sure you’re there alone
’Cuz I’m trying to explain
Somethings wrong
You just don’t sound the same
Why don’t you, why don't you
Go outside, go outside
Kiss the rain
Whenever you need me
Kiss the rain
Whenever I’m gone too long
If your lips feel lonely and thirsty
Kiss the rain
And wait for the dawn
Keep in mind
We're under the same sky
And the nights
As empty for me as for you
If you feel you can’t wait till morning
Kiss the rain…
Hello...Do you miss me
I hear you say you do
But not the way I’m missing you
What’s new
How’s the weather
Is it stormy where you are
You sound so close but it feels like you’re so far
Oh would it mean anything
If you knew
What I’m left imagining
In my mind, my mind
Would you go, would you go
Kiss the rain
As you fall, over me
Think of me, only me
Kiss the rain
Whenever you need me
Kiss the rain
Whenever I’m gone too long
If your lips
Feel hungry and tempted
Kiss the rain
And wait for the dawn
Keep in mind
Were under the same sky
And the nights
As empty for me as for youIf you feel you can’t wait till morning
Kiss the rain…
Hello...
Can you hear me…
(Billie Myers)




Aria



Un bel di vedremo
Levarsi un fil di fumo sull´estremo
Confin del mare.
E poi la nave appare.
E poi la nave bianca
Entra nel porto, romba il suo saluto.
Vedi? E´ venuto!

One fine day we'll notice
A thread of smoke arising on the sea
In the far horizon,
And then the ship appearing;
Then the trim white vessel
Glides into the harbour, thunders forth her cannon.
See you? Now he is coming!

(Puccini, Madame Butterfly, Act II)

Buddha Bar, Aria - Um Bel Di

Céu Azul


A dormência dos meus labios enfindos
entre palavras soltas de alegria por estar aqui
e nem saber sequer se estou em mim
faz de mim a pessoa mais solta e alegre do mundo
sinto a brisafecho os olhos
e estás aqui comigo,
contemplando
este azul do céu lindo...
Ouvi a tua voz que me chamou à realidade,
suspirei por saber que afinal
não é mentira tudo isto...
É a vida e vivo nela sem mais...
Quase inconscientemente,
olho para o lado e aqui estás tu,
com esse teu sorriso terno, e simples...
suspiro mais uma vez,
afinal é verdade...
O céu é mesmo azul, e vives dentro dele...

13-04-07

To the lighthouse...

Não havia hiótese absolutamente alguma de que pudessem ir amanhã ao Farol, interrompeu Mr Ramsay irascivelmente.
Como é que sabia?, perguntou ela. Muitas vezes o vento mudava...
A extrema irracionalidade desta observação, essa loucura da mentalidade feminina, enfureciam-no. Tinha galopado pelo valedos mortos, tinha sido sacudido e despedaçado; e eis que a mulher se retirava agora perante os factos, fazia com que os filhos depositassem esperança naquilo que se achava inteiramente fora de questão, mentindo-lhes, afinal. Bateu com o pé no degrau da porta. "Diabos a levem", gritou. Mas que dissera ela? Apenas que poderia estar bom amanhã. E poderia mesmo.
Não, com o barómetro a descer e o vento a rodar a oeste.

Perseguir a verdade com tão espantosa falta de considera~ção pelos sentimentos dos outros, rasgar tão impudicamente, tão brutalmente, os véus da civilização, era para ela uma ofensa de tal forma horrível à decência humana que, sem dar resposta, confundida e cega, baixou a cabeça, como que a deixar a queda de granizo afiado, a carga de água suja, salpicá-la sem que se queixasse. Nada havia a dizer.
Virginia Woolf, Rumo ao Farol