Tudo parece programado de antemão
e lentamente perdemos a capacidade
de nos deixarmos surpreender, de aceitar que o insólito é possível.

Luís Sepúlveda, Encontro de Amor Num País Em Guerra

quinta-feira, 5 de julho de 2007

To the lighthouse...

Não havia hiótese absolutamente alguma de que pudessem ir amanhã ao Farol, interrompeu Mr Ramsay irascivelmente.
Como é que sabia?, perguntou ela. Muitas vezes o vento mudava...
A extrema irracionalidade desta observação, essa loucura da mentalidade feminina, enfureciam-no. Tinha galopado pelo valedos mortos, tinha sido sacudido e despedaçado; e eis que a mulher se retirava agora perante os factos, fazia com que os filhos depositassem esperança naquilo que se achava inteiramente fora de questão, mentindo-lhes, afinal. Bateu com o pé no degrau da porta. "Diabos a levem", gritou. Mas que dissera ela? Apenas que poderia estar bom amanhã. E poderia mesmo.
Não, com o barómetro a descer e o vento a rodar a oeste.

Perseguir a verdade com tão espantosa falta de considera~ção pelos sentimentos dos outros, rasgar tão impudicamente, tão brutalmente, os véus da civilização, era para ela uma ofensa de tal forma horrível à decência humana que, sem dar resposta, confundida e cega, baixou a cabeça, como que a deixar a queda de granizo afiado, a carga de água suja, salpicá-la sem que se queixasse. Nada havia a dizer.
Virginia Woolf, Rumo ao Farol

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